terça-feira, 12 de janeiro de 2016

ANÁLISE DO POEMA A CATEDRAL - ALPHONSUS DE GUIMARÃES

A Catedral – Alphonsus de Guimarães
Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"


Alphonsus de Guimarães é um poeta simbolista brasileiro, para que possamos analisar seu poema, vamos às características do simbolismo.
Subjetivismo;
Linguagem vaga, fluida, que preza pela sugestão;
Cultivo de formas fixas para o poema, especialmente do soneto;
Antimaterialismo;
Misticismo, religiosidade;
Pessimismo, dor de existir;
Retomada de elementos do Romantismo;
Abundância de metáforas e figuras sonoras;
Ênfase no imaginário e na fantasia;
Musicalidade;
Obsessão pelo branco;
Símbolos.
Entre brumas, ao longe, surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
O poema se inicia com uma espécie de visão, entre a neblina surge a aurora (pode ser vista como o período que anterior ao amanhecer, ou então como infância, início). Observa-se neste trecho algumas características do Simbolismo. O sonho, representado pelas brumas, a aurora surgindo ao longe, a visão é transparente, mas não tão clara. Há também a obsessão pelo branco presente. Surge outro símbolo, representado pelo arrebol, a cor vermelha, que está morrendo.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
A confirmação de que se trata realmente de um sonho, um símbolo surge, uma catedral branca. A cor branca representa a pureza. A catedral representa algo sagrado. Mas que catedral branca é essa que aparece toda branca de luz na paz do céu risonho? Essa catedral é uma moça virgem, pura. Pode também ser vista como o nascimento dela.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
A musicalidade é nítida nesse trecho, imitação do som de um sino. Observe que esse trecho se repetirá durante o poema com pequenas alterações. Aqui o sino canta triste, como se o trouxesse à realidade. Pobre Alphonsus.
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a benção de Jesus.
O tempo vai passando, movimento do sol, e a catedral (mulher) recebe a benção de Jesus – pode ser visto como batismo. Outra característica do Simbolismo, a religiosidade. Também se pode pensar na mudança de fase da vida, tornar-se mulher.
E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Aqui o sino já não canta mais, grita. O pessimismo se faz cada vez mais presente.
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
Segue o tempo, marcado por símbolos. A religiosidade continua presente. O céu agora está tristonho. A mulher, branca de luar. A lua é o símbolo dos românticos. No simbolismo, há valorização de características românticas. A mulher continua pura.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
Agora o sino chora.
O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
A dor, pode-se notar aqui a morte da amada. O céu agora está medonho.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Um bom poema pode ser analisado de várias maneiras. Espero ter ajudado.

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