Link da música no youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=LgptPnUlTkw
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A
música Domingo no Parque é uma narrativa que conta a história de
dois amigos, José e João. O título remete a algo divertido, o que
se confirmará depois, pelo menos para o personagem João, porém o
final não, é trágico para os dois.
Na
versão original da música, no início se pode notar uma agitação,
como se fosse a semana dos dois personagens, então o ritmo vai
diminuindo e se ouvem sorrisos e diversão, fim de
semana. Aparece o som característico do berimbau, instrumento ligado
diretamente à capoeira. A capoeira é jogada em uma grande roda, o
clímax do conto acontece com a roda gigante e a música foi feita de
uma forma que faz com que o ouvinte gire como se estivesse em uma
roda gigante, ou como em uma roda de capoeira.
Vamos
à letra:
“O
rei da brincadeira - ê, José
O rei da confusão - ê, João
Um trabalhava na feira - ê, José
Outro na construção - ê, João”
O rei da confusão - ê, João
Um trabalhava na feira - ê, José
Outro na construção - ê, João”
A
narrativa começa nos apresentando os dois personagens principais.
Tudo o que precisamos saber sobre eles está aqui: José é o rei da
brincadeira e trabalha na feira e João é o rei da confusão e
trabalha na construção. Isso induz o ouvinte a achar que José é o
bom e João é o mau. Imagina-se um feirante como alguém simpático,
que tem que cativar o cliente e o operário da construção como
alguém forte, bruto,
pois
trabalha pesado.
Nota-se também que o giro não
se faz apenas no ritmo, mas também na letra (ê, José, ê João, ê,
José, ê João) através da repetição.
“A
semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar
O
José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu”
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu”
Aqui começa a narração do fim
de semana, o tempo em que se passa a música. João resolve fazer
algo diferente, nesse fim de semana ele não quer brigar. Deixou de
ir jogar capoeira para namorar. O amor transformando o personagem.
João troca algo de que gosta, confusão, pelo amor.
Enquanto isso, José fez o que
costumava, passear no parque. Lá, avistou Juliana. Aqui há uma
pausa rápida na música, como se ao avistar Juliana, algo
acontecesse com ele. O normal seria se cantar “Foi no parque que
ele avistou Juliana.”, mas Gil canta “Foi no parque que ele
avistou… Juliana foi que ele viu.”
“Juliana
na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração”
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração”
Aqui
acontece a surpresa de José, algo acontece em seu coração quando
vê Juliana: “Foi que ele viu
Juliana na roda com João.”
Juliana e João estão na roda
gigante, lembrando que João deixou de ir a uma roda gigante, a
capoeira, para ir a outra, por causa de Juliana. Também
se fazem presentes simbologias, sorvete e rosa, dois símbolos da
alegria, o sorvete por ser doce e a rosa delicada, símbolo do amor.
O narrador deixa claro que José
é apaixonado por Juliana, mas não vê possibilidades de viver essa
paixão, e isso não se deve à presença do amigo João. O sorvete e
a rosa que simbolizam a felicidade de Juliana e João
agem de forma diferente em José,
a rosa tem espinhos que o ferem e o sorvete é gelado. Nota-se também
que o narrador não fala que Juliana traz a rosa e o sorvete nas
mãos, mas na mão, isso pode se justificar para a rima ficar melhor,
mas o narrador também pode estar querendo mostrar que a outra mão
de Juliana está com José e que rosa e sorvete se misturam.
“O
sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, dançando no peito - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, dançando no peito - ô, José
Do José brincalhão - ô, José
O
sorvete e a rosa - ô, José
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, girando na mente - ô, José
Do José brincalhão - ô, José”
A rosa e o sorvete - ô, José
Oi, girando na mente - ô, José
Do José brincalhão - ô, José”
Aqui
o movimento do círculo é intenso, tanto pelo ritmo da música
quanto pela maneira como as palavras foram trabalhadas. Repetição
cruzada “O sorvete e a rosa / A rosa e o sorvete”. E repetição
do trecho “ô José”. Também vemos a presença dos verbos
dançando e girando. “Dançando no peito” e “Girando na mente”.
Peito e mente, emoção e razão. Conflito interno do José
brincalhão.
“Juliana
girando - oi, girando
Oi, na roda gigante - oi, girando
Oi, na roda gigante - oi, girando
O amigo João – João”
Oi, na roda gigante - oi, girando
Oi, na roda gigante - oi, girando
O amigo João – João”
E
continua a trabalho letra e ritmo girando. Juliana girando, mas João
com ela, é isso que realmente incomoda José, pode-se perceber pela
repetição do nome do amigo.
“O
sorvete é morango - é vermelho
Oi, girando, e a rosa - é vermelha
Oi, girando, girando - é vermelha
Oi, girando, girando - olha a faca!”
Oi, girando, e a rosa - é vermelha
Oi, girando, girando - é vermelha
Oi, girando, girando - olha a faca!”
Os
dois elementos, rosa e sorvete, que já incomodavam José, agora o
atormentam, dançam e giram em seu peito e cabeça. Uma nova
simbologia surge, a cor vermelha, presente tanto na rosa como no
sorvete, que só agora se mostram vermelhos. O giro, com rosa e
sorvete vermelhos, termina com um novo elemento, uma faca. E aqui há
suspense.
“Olha
o sangue na mão - ê, José
Juliana no chão - ê, José
Outro corpo caído - ê, José
Seu amigo, João - ê, José”
Juliana no chão - ê, José
Outro corpo caído - ê, José
Seu amigo, João - ê, José”
A
emoção vence a razão, a narrativa segue com muito suspense,
primeiro há o sangue na mão de José. De quem? Juliana aparece a
seguir no chão. Então há outro corpo no chão. De quem? Do amigo
João. O assassinato do amigo João - que se comprovará depois, o
narrador não deixa de se referir a João como amigo - é uma
surpresa, pois no início da música, se apresentou José como
brincalhão e João como o rei da confusão. A repetição do “ê,
José” é como se fosse o narrador ou a consciência dizendo: “Olha
a merda que você fez, José!” Mas João e Juliana morreram? Até
aqui não é possível saber, então vamos à última estrofe.
“Amanhã
não tem feira - ê, José
Não tem mais construção - ê, João
Não tem mais brincadeira - ê, José
Não tem mais confusão - ê, João”
Não tem mais construção - ê, João
Não tem mais brincadeira - ê, José
Não tem mais confusão - ê, João”
Amanhã
não terá feira, mas pode haver feira no futuro, pois José não
morreu, talvez tenha sido preso, talvez tenha fugido. João morreu,
como mostra o segundo verso da última estrofe: “Não tem mais
construção e confusão.” A afirmação de que não terá mais
confusão deixa claro a morte de João. Assim como não terá mais
brincadeira, pois certamente José se transformará em outra pessoa,
incapaz de brincar, triste. E Juliana? O narrador deixa de falar de
Juliana assim que ela cumpre o seu papel dentro da narrativa. Se
Juliana morreu ou não, não importa, pois ela é personagem
secundária.
A
última estrofe é acompanhada por um ritmo trágico, a música é
perfeita, logo após o término da narrativa, a música ganha ritmo
alegre novamente, como no início. É o ritmo da roda gigante, como a
vida, que continua a girar.