Senhora
faz parte da tríade de romances urbanos de José de Alencar –
Lucíola, Diva e Senhora. Possui algumas semelhanças com Lucíola.
Aurélia
Camargo é uma jovem pobre. É apaixonada por Fernando Seixas, um
rapaz também pobre e interesseiro que a deixa por ela não ter
posses.
O
romance é dividido em quatro partes:
*
O preço: Neste, Aurélia Camargo aparece como uma nova estrela da
sociedade fluminense. Uma moça prendada, inteligente, bonita, que
recebera uma grande herança. Todos os homens do Rio de Janeiro
desejam aquela bela mulher, mas ela os ignora, pois carrega consigo a
vontade de se vingar de seu grande amor, Fernando Seixas; para isso,
ela pede a seu tio que compre o rapaz. Fernando aceita sem saber que
a mulher que o está comprando é a mesma Aurélia que cortejara. A
primeira parte termina na noite de núpcias, com a constatação de
que ela é uma mulher traída e ele um homem vendido.
*
Quitação: Esta parte começa com um flash back. É apresentada a
história de Emília Camargo, a mãe de Aurélia, que, quando moça,
apaixonara-se por Pedro de Souza Camargo, estudante muito rico, filho
de um grande fazendeiro. Do casamento destes, em segredo, nasceu
Aurélia, o avô desta não aceitou tal união. Pedro volta a viver
perto do pai, mas morre em pouco tempo, deixando dois filhos com
Emília: Emílio e Aurélia. O irmão de Aurélia morre jovem,
deixando as mulheres da família desamparadas. Emília também
falece, deixando Aurélia sozinha.
*
Posse: é o momento em que Aurélia toma posse de seu bem, ou seja, o
marido, Fernando Seixas. Nesta parte, vê-se a punição que ela
emprega a ele. Aurélia mostra-se durante a maior parte do tempo
muito forte, porém, em alguns momentos não consegue esconder que
ainda ama o rapaz.
*
Resgate: Aurélia apresenta
nesta comportamento contraditório, pois ora age com muito furor em
sua vingança, ora se apresenta arrependida de seus atos. O resgate
se dá quando há total arrependimento de ambos. Fernando paga por
seu resgate com juros, ganha sua liberdade e em troca se prende ao
amor de Aurélia.
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
Aurélia
Camargo: É a personagem principal, a melhor personagem de José de
Alencar e uma das melhores
do romantismo.
Fernando
Seixas: Forma um dos casais mais conhecidos da literatura brasileira
com Aurélia.
Sr.
Lemos: tio de Aurélia, velho oportunista que sempre tentou tirar
proveito da sobrinha, primeiro da sua beleza, depois da sua riqueza.
Emília
Camargo: mãe de Aurélia, mulher que morreu na pobreza. Representa a
autêntica personagem romântica.
Pedro
de Sousa Camargo: pai de Aurélia, amava demasiadamente a esposa,
porém fora impedido de viver este amor.
Lourenço
de Sousa Camargo: pai de Pedro. Grande fazendeiro. Impediu o filho de
viver seu amor, pois não concordava que ele vivesse com uma mulher
pobre. Reconhece a neta a tempo de fazê-la sua herdeira.
D.
Firmina: Velha viúva que acompanhava Aurélia. Era uma espécie de
escudeira da jovem.
FOCO
NARRATIVO
O
romance é narrado em 3ª pessoa. O narrador é onisciente e
onipresente, pois antecipa os fatos, sabe o que se passa na cabeça
dos personagens, está em todos os lugares.
Por
isso mesmo considerava ela o ouro um vil metal que
rebaixava os homens; e no íntimo sentia-se profundamente
humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela, a
sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que
tributavam a cada um de seus mil contos de réis. ALENCAR, 1993; p.
16).
O
ROMANTISMO NA OBRA
Uma
das principais características do romantismo se vê presente na
comparação entre mulheres e flores, mostrando fragilidade. “Vocês,
mulheres, têm
isso de comum com as flores, que umas são filhas de sombra e abrem
com a noite, e outras são filhas da luz e carecem de sol.”
(ALENCAR, 1993; p. 38).
“No
meio das ondulações de seda, parecia não ser ela quem avançava;
mas os outros que vinham a seu encontro(...)” (ALENCAR, 1993; p.
63). Nota-se aqui, grande exaltação à beleza feminina. Aurélia é
descrita como uma mulher deslumbrante.
Aurélia
Camargo é apresentada como uma deusa, uma verdadeira heroína
romântica. “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.”
(ALENCAR, 1993; p. 15). Assim se inicia o romance, estas são as
primeiras palavras, primeiro Alencar nos faz imaginar uma estrela,
depois diz quem essa é.
Senhora
não é uma obra nacionalista como Iracema
ou O Guarani, no
entanto não deixa de exaltar as belezas do Brasil. Seixas deixa
claro que Recife é muito mais bonita que Veneza, mesmo admitindo
não conhecer essa cidade italiana.
Não
conheço Veneza; mas pelo que sei dela, não posso compreender que se
compare um acervo de mármore levantado sobre o lodo das restingas,
com as lindas várzeas do Capiberibe, toucadas de seus verdes
coqueirais, a cuja sombra a campina e o mar se abraçam
carinhosamente. (ALENCAR, 1993, p. 65).
“Emília
cobriu-se do luto que não despiu senão para trocá-lo pela
mortalha. Mais negro porém e mais triste do que o vestido era o dó
de sua alma, onde jamais brotou um sorriso.” (ALENCAR, 1993; p.
89). Assim que soube da morte de seu marido, a mãe de Aurélia
vestiu-se de negro e jamais sorriu. Percebe-se grande sentimentalismo
e amor único. O verdadeiro romântico se negava a viver um novo
amor, pois este brotava em seu coração uma única vez na vida. O
exagero no sentimentalismo também se vê presente no trecho
seguinte: “Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais
poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem.” (ALENCAR, 1993; p.
108). O amor era mais importante que o instrumento que o levava a
este. O importante na vida era viver um grande amor, viver uma vida
sem amar era significado de uma vida fracassada.
Aurélia
foi bem educada, era boa menina. Seixas não era diferente. Durante o
caminho cometeram erros, nenhum destes muito grave, arrependeram-se e
por isso foram merecedores de um final feliz, eis a principal
característica do romantismo: a felicidade para o bom, o sofrimento
e o castigo para o mau.
A
personagem principal do romance tem muitos traços de Eugênia
Grandet, personagem de Honoré de Balzac, como a personagem francesa,
era independente, não dependia de um homem, era autossuficiente.
Era
realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor,
a perspicácia com que essa moça de 18 anos apreciava as
questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que
mostrava dos negócios, e a facilidade com que fazia,
muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética
por muito difícil e intrincada que fosse. (ALENCAR, 1993; p. 28).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Nota-se
que a obra apresente traços realistas. É uma antecipação da nova
escola que se estava para surgir, Balzac, um dos grandes inspiradores
de Alencar, foi um dos antecipadores do realismo francês, no
entanto, Alencar ainda estava preso aos ideais românticos.
Apesar
de o romance apresentar traços inovadores, não pode ser considerado
realista, pois o moralismo ainda está presente, além do final
puramente romântico. Seixas não parece nem um pouco romântico no
início da narrativa, mas com o decorrer desta, percebe-se que ele
sempre foi apaixonado por Aurélia. Ela, por sua vez, também tenta
bancar a durona em busca de sua vingança, mas fracassa por ver seu
amor falar mais alto. O romance deixa bem claro que ambos são bons
cidadãos, por isso merecem a felicidade. A obra seria realista se
Seixas se deixasse vender, mas isso não acontece; ou se Aurélia não
se arrependesse de seus atos no final. Portanto pode-se afirmar que a
obra é romântica, digna de final feliz.
REFERÊNCIAS
ALENCAR,
José de. Senhora: perfil de mulher. 2 ed. São Paulo: FTD,
1993.
BALZAC,
Honoré de. Eugênia Grandet. São Paulo: Martim Claret, 2006.