segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

ANÁLISE DO ROMANCE SENHORA - JOSÉ DE ALENCAR

Senhora faz parte da tríade de romances urbanos de José de Alencar – Lucíola, Diva e Senhora. Possui algumas semelhanças com Lucíola.
Aurélia Camargo é uma jovem pobre. É apaixonada por Fernando Seixas, um rapaz também pobre e interesseiro que a deixa por ela não ter posses.
O romance é dividido em quatro partes:
* O preço: Neste, Aurélia Camargo aparece como uma nova estrela da sociedade fluminense. Uma moça prendada, inteligente, bonita, que recebera uma grande herança. Todos os homens do Rio de Janeiro desejam aquela bela mulher, mas ela os ignora, pois carrega consigo a vontade de se vingar de seu grande amor, Fernando Seixas; para isso, ela pede a seu tio que compre o rapaz. Fernando aceita sem saber que a mulher que o está comprando é a mesma Aurélia que cortejara. A primeira parte termina na noite de núpcias, com a constatação de que ela é uma mulher traída e ele um homem vendido.
* Quitação: Esta parte começa com um flash back. É apresentada a história de Emília Camargo, a mãe de Aurélia, que, quando moça, apaixonara-se por Pedro de Souza Camargo, estudante muito rico, filho de um grande fazendeiro. Do casamento destes, em segredo, nasceu Aurélia, o avô desta não aceitou tal união. Pedro volta a viver perto do pai, mas morre em pouco tempo, deixando dois filhos com Emília: Emílio e Aurélia. O irmão de Aurélia morre jovem, deixando as mulheres da família desamparadas. Emília também falece, deixando Aurélia sozinha.
* Posse: é o momento em que Aurélia toma posse de seu bem, ou seja, o marido, Fernando Seixas. Nesta parte, vê-se a punição que ela emprega a ele. Aurélia mostra-se durante a maior parte do tempo muito forte, porém, em alguns momentos não consegue esconder que ainda ama o rapaz.
* Resgate: Aurélia apresenta nesta comportamento contraditório, pois ora age com muito furor em sua vingança, ora se apresenta arrependida de seus atos. O resgate se dá quando há total arrependimento de ambos. Fernando paga por seu resgate com juros, ganha sua liberdade e em troca se prende ao amor de Aurélia.


PERSONAGENS PRINCIPAIS
Aurélia Camargo: É a personagem principal, a melhor personagem de José de Alencar e uma das melhores do romantismo.
Fernando Seixas: Forma um dos casais mais conhecidos da literatura brasileira com Aurélia.
Sr. Lemos: tio de Aurélia, velho oportunista que sempre tentou tirar proveito da sobrinha, primeiro da sua beleza, depois da sua riqueza.
Emília Camargo: mãe de Aurélia, mulher que morreu na pobreza. Representa a autêntica personagem romântica.
Pedro de Sousa Camargo: pai de Aurélia, amava demasiadamente a esposa, porém fora impedido de viver este amor.
Lourenço de Sousa Camargo: pai de Pedro. Grande fazendeiro. Impediu o filho de viver seu amor, pois não concordava que ele vivesse com uma mulher pobre. Reconhece a neta a tempo de fazê-la sua herdeira.
D. Firmina: Velha viúva que acompanhava Aurélia. Era uma espécie de escudeira da jovem.



FOCO NARRATIVO
O romance é narrado em 3ª pessoa. O narrador é onisciente e onipresente, pois antecipa os fatos, sabe o que se passa na cabeça dos personagens, está em todos os lugares.
Por isso mesmo considerava ela o ouro um vil metal que rebaixava os homens; e no íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela, a sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis. ALENCAR, 1993; p. 16).


O ROMANTISMO NA OBRA
Uma das principais características do romantismo se vê presente na comparação entre mulheres e flores, mostrando fragilidade. “Vocês, mulheres, têm isso de comum com as flores, que umas são filhas de sombra e abrem com a noite, e outras são filhas da luz e carecem de sol.” (ALENCAR, 1993; p. 38).
“No meio das ondulações de seda, parecia não ser ela quem avançava; mas os outros que vinham a seu encontro(...)” (ALENCAR, 1993; p. 63). Nota-se aqui, grande exaltação à beleza feminina. Aurélia é descrita como uma mulher deslumbrante.
Aurélia Camargo é apresentada como uma deusa, uma verdadeira heroína romântica. “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.” (ALENCAR, 1993; p. 15). Assim se inicia o romance, estas são as primeiras palavras, primeiro Alencar nos faz imaginar uma estrela, depois diz quem essa é.
Senhora não é uma obra nacionalista como Iracema ou O Guarani, no entanto não deixa de exaltar as belezas do Brasil. Seixas deixa claro que Recife é muito mais bonita que Veneza, mesmo admitindo não conhecer essa cidade italiana.
Não conheço Veneza; mas pelo que sei dela, não posso compreender que se compare um acervo de mármore levantado sobre o lodo das restingas, com as lindas várzeas do Capiberibe, toucadas de seus verdes coqueirais, a cuja sombra a campina e o mar se abraçam carinhosamente. (ALENCAR, 1993, p. 65).
“Emília cobriu-se do luto que não despiu senão para trocá-lo pela mortalha. Mais negro porém e mais triste do que o vestido era o dó de sua alma, onde jamais brotou um sorriso.” (ALENCAR, 1993; p. 89). Assim que soube da morte de seu marido, a mãe de Aurélia vestiu-se de negro e jamais sorriu. Percebe-se grande sentimentalismo e amor único. O verdadeiro romântico se negava a viver um novo amor, pois este brotava em seu coração uma única vez na vida. O exagero no sentimentalismo também se vê presente no trecho seguinte: “Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem.” (ALENCAR, 1993; p. 108). O amor era mais importante que o instrumento que o levava a este. O importante na vida era viver um grande amor, viver uma vida sem amar era significado de uma vida fracassada.
Aurélia foi bem educada, era boa menina. Seixas não era diferente. Durante o caminho cometeram erros, nenhum destes muito grave, arrependeram-se e por isso foram merecedores de um final feliz, eis a principal característica do romantismo: a felicidade para o bom, o sofrimento e o castigo para o mau.
A personagem principal do romance tem muitos traços de Eugênia Grandet, personagem de Honoré de Balzac, como a personagem francesa, era independente, não dependia de um homem, era autossuficiente.
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça de 18 anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, e a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito difícil e intrincada que fosse. (ALENCAR, 1993; p. 28).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se que a obra apresente traços realistas. É uma antecipação da nova escola que se estava para surgir, Balzac, um dos grandes inspiradores de Alencar, foi um dos antecipadores do realismo francês, no entanto, Alencar ainda estava preso aos ideais românticos.
Apesar de o romance apresentar traços inovadores, não pode ser considerado realista, pois o moralismo ainda está presente, além do final puramente romântico. Seixas não parece nem um pouco romântico no início da narrativa, mas com o decorrer desta, percebe-se que ele sempre foi apaixonado por Aurélia. Ela, por sua vez, também tenta bancar a durona em busca de sua vingança, mas fracassa por ver seu amor falar mais alto. O romance deixa bem claro que ambos são bons cidadãos, por isso merecem a felicidade. A obra seria realista se Seixas se deixasse vender, mas isso não acontece; ou se Aurélia não se arrependesse de seus atos no final. Portanto pode-se afirmar que a obra é romântica, digna de final feliz.


REFERÊNCIAS
ALENCAR, José de. Senhora: perfil de mulher. 2 ed. São Paulo: FTD, 1993.

BALZAC, Honoré de. Eugênia Grandet. São Paulo: Martim Claret, 2006.

Nenhum comentário:

Postar um comentário