domingo, 24 de maio de 2020

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

BACURAU - ANÁLISE

Agora, que praticamente todos viram o filme, decidi fazer minha análise sobre Bacurau. Obviamente não vou analisar tecnicamente o filme, vou fazê-lo como uma obra literária. Se você ainda não viu o filme, pare por aqui e volte depois que vê-lo.
O filme começa com um caminhão-pipa, dirigido pelo personagem Erivaldo passando por cima de caixões no caminho de Bacurau. A presença de caixões me fez lembrar da obra Incidente em Antares, de Érico Veríssimo. Logo a seguir, um caminhão de caixões tombado e uma pessoa morta; além disso, a estrada cheia de buracos. Entendo como as dificuldades no caminho de nossas vidas, é a água vencendo a morte, passando por cima.
No caminho, dá pra ver uma escola abandonada, a falta de investimento na educação, além disso há um ônibus escolar na entrada da vila, que nunca sai do lugar, inclusive tem outra finalidade. E uma placa: “Bacurau a 17 km. Se for, vá na paz.”
O personagem Lunga aparece, em uma tela no caminhão, sendo procurado pela polícia, com recompensa. Logo a frente, o personagem Erinaldo para em um local em que há água e pessoas que têm a posse dela, há um diálogo entre ele e Tereza, a personagem que está retornando a Bacurau. Nesse diálogo, eles falam sobre Lunga. Dá para perceber que Lunga é praticamente um herói, pois tentou invadir o local para levar água a Bacurau.
Pouco antes da vila, há a casa de Darlene, personagem que age como informante da vila, pois avisa quem está chegando. Aqui se percebe uma das principais características de Bacurau: a vila vive um sistema socialista, em que cada personagem tem uma função importante para o grupo, todos têm o grupo como mais importante que o individual.
Tereza recebe uma sementinha, colocada em sua boca por um morador, ela chega à vila trazendo apenas uma mala vermelha, que é tratada com carinho pelos habitantes. Eles comemoram a chegada da mala, pois ela é muito importante, traz vacinas. Tereza não traz nada dela ou para ela. Em Bacurau é todos por todos.
Tudo nos leva a crer que a personagem principal é Tereza, mas ela é apenas nossa porta de entrada a Bacurau. Ela chega ao velório de sua avó, pessoa muito estimada na vila.
Sônia Braga, uma de nossas atrizes mais talentosas, dá vida à personagem Domingas. Se a intenção do diretor foi fazer com que o expectador criasse antipatia no início pela personagem, não foi o que aconteceu comigo. Na primeira cena em que aparece, Domingas bate a janela na cara de Tereza, quando esta passa. Na segunda, ela vai, bêbada, até o velório da avó de Tereza e causa tumulto parecendo ter ciúme por a mulher ser amada pela população. A intenção do diretor parece ser nos fazer ver Tereza como personagem principal, depois vemos que não, por isso disse que Domingas é vista como alguém ruim, mas logo à frente veremos que não.
Por que Domingas agem assim? Porque é humana. Todos nós temos nossas vaidades, não é fácil pensar o tempo todo no bem comum.
Bacurau é tão organizada que há até um locutor com carro de som e vídeo. Nunca se vê alguém sozinho nas ruas de Bacurau.
Quando vi a vila pela primeira vez, lembrei-me de Macondo, cidade onde se passa a maioria dos romances de Gabriel García Márquez. O livro Cem anos de solidão mostra essa cidade vivendo uma espécie de socialismo. Dizem que Gabo leu Érico Veríssimo, certamente Kleber Mendonça Filho – diretor de Bacurau – leu os dois.
Dois locais são sempre mostrados durante o filme, a escola e o museu. O museu é o orgulho de Bacurau. Há também uma igreja, que serve de depósito, aqui certamente o diretor quis deixar claro que dessa forma a igreja é mais útil à população; além de um posto de atendimento de saúde, comandado pela personagem Domingas. Nesse momento vemos que ela é como os outros, é uma pessoa boa. Domingas atende casos bem simples, como uma mulher que vai até ela porque está de ressaca e um homem que vai até lá apenas para poder dormir.
Outro personagem importante é Acácio, conhecido por pacote. Esse personagem foi autor de vários crimes pelo estado. Ele gosta de ser chamado pelo nome pelos moradores de Bacurau, mas de Pacote por quem é de fora. Acácio não sofre qualquer tipo de discriminação em Bacurau, nem ele, nem qualquer outro personagem, o que mostra que Bacurau aceita todo mundo.
Um dos momentos mais importante é quando aparece o prefeito Tony Junior, Darlene avisa a cidade que ele está indo para lá, em menos de cinco minutos, todos se escondem, Tony é uma caricatura do político brasileiro, que só lembra dos eleitores em tempo de eleição. Tony leva alimentos, muitos vencidos; remédios tarja preta; caixão e livro, que trata com desprezo, despejando de um caminhão.
O que para Tony é lixo, para a população é tesouro, cultura e educação são muito valorizadas em Bacurau.
O diretor no engana mais uma vez em uma cena em que aparece um drone parecido com um disco voador antigo. Nós somos levados a pensar que a população vai ser invadida por aqueles discos toscos, mas logo percebemos que os moradores sabem que se trata de um drone.
A ação no filme só começa quando dois forasteiros aparecem em Bacurau. São dois brasileiros do sudeste que se unem a um grupo de americanos que vêm para matar todos os habitantes de Bacurau, participando de uma espécie de jogo.
Os dois se acham melhores que os moradores de Bacurau por serem do sudeste, dizem que são brancos, mas os americanos não os veem assim e até zombam deles, comparando-os a mexicanos brancos. Achei essa cena sensacional, pois mostra exatamente como muitas pessoas do sul/sudeste do Brasil agem, achando-se superiores a nordestinos, mas dá pra ver que os gringos os veem como inferiores a eles, iguais aos nordestinos.
Os americanos acham que vai ser fácil acabar com Bacurau, mas eles não contam com a união do povo, liderado por Lunga, que é trazido por Pacote à vila. Lunga é o herói local, o salvador e traça estratégias para vencer. Lembremos que Lunga está foragido da justiça, vivendo como se estivesse preso e trazido pelo povo para liderá-lo, lembra algo?
Quando os gringos estão se dirigindo a Bacurau, Domingas vai ao encontro de um deles, o líder, e lhe dá presentes, que representam a cultura do local: suco de caju e guizado, coloca música americana. O americano joga tudo, tira uma faca e a ameaça, tentando mostrar superioridade, pela força. Ela usa jaleco branco, paz. Lembrou-me os portugueses chegando no Brasil e sendo recebido pelos índios. Mas aqui o vencedor será o povo da terra.
Os americanos entram facilmente na cidade, não há resistência, mas não encontram ninguém. Um deles diz: “Eu achei que era só chegar e sair atirando.”
Em uma cena, enquanto um americano anda por uma casa, passa na TV: “Execuções públicas recomeçam...” Vale lembrar que o filme se passa em um futuro próximo, então é uma crítica aos rumos que o país está tomando.
O museu de Bacurau é o orgulho da cidade, mas os gringos sempre desdenham-no. É aqui que acontece a cena mais forte do filme. O povo usa as armas do museu para se defender. Se tivessem conhecido o museu antes, poderiam saber que havia muitas armas ali. O museu só nos é apresentado internamente nessa cena, só então percebemos que os habitantes de Bacurau são descendentes do cangaço.
O primeiro tiro de resposta veio da escola. A escola sempre resistindo, assim como a cultura.
Após vencerem os americanos, as cabeças deles são cortadas e exibidas, assim como fizeram com os líderes do cangaço no passado, seria um troco.
Lunga é quem corta essas cabeças. Pacote pergunta a Tereza se Lunga não exagerou e ela responde que não.
O filme traz dois personagens trans: Dalila e Lunga. Há diferença entre eles e os outros personagens? Não. Em Bacurau todos são iguais e importantes.
No fim, aparece o culpado por tudo, o prefeito, mas ele tem o merecido castigo. Quando o prefeito pede para Plínio, o professor, não fazer nada, este responde: “Nós estamos sob um poderoso psicotrópico e você vai morrer.”
Apenas um personagem não tem a cabeça decepada, o líder, alemão. Ele é enterrado vivo. Antes disso acontecer, a responsável pelo museu diz que ele já foi uma boa pessoa. Domingas responde que ele já teve mãe.
No fim, o personagem alemão grita: “Isso é só o começo!” Já vi algumas pessoas dizendo que isso foi uma deixa para uma continuação, mas acho que isso significa que sempre tem algo acontecendo, começando e terminando.
Em Bacurau não há um personagem principal Bacurau é o personagem principal. Somente a união do povo fez com que conseguissem resistir. Educação e cultura são fundamentais a todos, principalmente hoje, que temos um governo que não as valoriza.
Bacurau representa a luta diária do povo brasileiro.
Isso não é um resumo do filme, apenas tentei analisar os pontos principais. Você pode concordar ou não, pois é uma obra muito subjetiva.
Ah! E sobre a sementinha? A sementinha para mim é a nossa dose diária de motivação, de garra, de vontade.
Valeu!

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

ISAR OU IZAR?


Primeiramente, temos que voltar ao estudo da formação de palavras: radical - prefixo (antes) - sufixo (depois).
Rapidamente: Radical é a parte da palavra que, quando derivada, não muda.

LISO - ALISAR - LISINHO. O radical é LIS.
Se o radical da palavra terminar em S, só acrescentamos AR. 

CIVIL - CIVILIZAR - CIVILIDADE. O radical é CIVIL.
Em alisar, o sufixo é AR. Em civilizar, o sufixo é IZAR.
- Não existe o sufixo ISAR.
Conclusão: Se o radical terminal em S ou Z, acrescentar AR, nos demais, acrescentar IZAR.

Mas, e deslizar? Não viria de liso, portanto deveria se escrever com S?
Existem as duas formas:
DESLIZAR (vem de deslize): escorregar   ----   DESLISAR (Vem de liso): alisar.

* Exceção: catequizar é com Z, embora catequese se escreva com S. 

--------AR--------------------------------------------- IZAR:
analisar - análise  --------------------------  canalizar - canal
avisar - aviso  ------------------------------  esterilizar - estéril
frisar - friso  --------------------------------  formalizar - formal
paralisar - paralisia  -----------------------  local - localizar
pisar - piso  ---------------------------------  oficial - oficializar
visar - visão  --------------------------------  urbano - urbanizar

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

LESADO OU LESIONADO?

















Chamou-me a atenção esse comentário em uma página de uma rede social.
Muitas pessoas têm dúvidas sobre usar o verbo lesar ou lesionar.
Lesionar: causar ou sofrer lesão física.
Lesar: provocar ou sofrer lesão física ou moral; violar; fraudar; roubar.
Portanto:
Lesionar só deve ser usado quando houver lesão física: “O atacante segue lesionado e desfalca o time hoje.”
lesar é mais abrangente, costumamos usá-lo com mais frequência no sentido de prejudicar, ofender ou violar um direito; mas pode ser usado também no sentido de lesão física. “A queda lesou seu joelho.”
Outros exemplos: “E se você foi lesada (e não lesionada como comentou a internauta), tem mesmo que ir atrás dos seus direitos.” “Esse decreto do presidente lesa a constituição.” “O governador lesou nosso estado.”